1ª Olimpíada Nacional de História do Brasil




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Oi Guerreiras Amazonas!!!!!

Sejam Bem-Vindas a essa aventura histórica, e não deixem de assistir abaixo a reportagem com a coordenadora da Olimpiada Cristina Meneguello. E vamos começar estudando A Pré-história do Brasil. Beijos...

Olimpíada na TV



Confira a entrevista da Historiadora e Diretora Associada do Museu Exploratório de Ciências, Cristina Meneguello, sobre a I Olimpíada Nacional em História do Brasil. A reportagem foi ao ar no dia 11, no Canal Futura.


Vamos Começar!!!!!!!



O Brasil de 50.000 anos Antes do Presente (A nossa verdadeira História da Pré-história)

Pintura Rupestre da Toca do Salitre - Parque Naciona da Serra da Capivara - São Raimundo Nonato - PI


Revista Nova Escola

O Brasil antes do Brasil

Quando os europeus nem pensavam em aportar por aqui, nosso território já era ocupado por diversas sociedades organizadas que pouco a pouco se tornam mais conhecidas

  1. Sítios Arqueológicos do Brasil
  2. A força feminina e Moradia
    nas alturas
    .
  3. Noções cartográficas
    e Engenharia praieira
  4. Megafauna

A velha história dos índios não civilizados que habitavam nosso território quando os portugueses aqui chegaram está dando lugar a outra sobre importantes civilizações. Pesquisas recentes mostram que o país tem um passado bem mais rico do que se pensava. Em vários sítios arqueológicos são estudados vestígios de antigos povos que remontam um cenário incrível. De norte a sul, nossas terras abrigavam grupos organizados em classes e que ocupavam espaços planejados.


Pesquisas arqueológicas feitas na Amazônia descrevem o auge de sociedades formadas por indígenas de diversas etnias que se tornaram auto-suficientes e criaram pólos de agricultura e cerâmica entre 1000 e 2000 A.P. antes do presente, datação usada por arqueólogos para se referir à pré-história que, nas Américas, segue divisão diferente do restante do mundo.

O homem se adaptava de modo sofisticado ao ambiente: usava a terra sem destruí-la e aumentava a biodiversidade, afirma o estudioso do alto Xingu Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida. Segundo ele, essas civilizações eram diferentes das de outras partes do mundo, mas nem por isso mais simples.
Hoje também se sabe mais sobre os sambaquis, comuns no litoral. Muito além de amontoados de conchas e restos mortais como são descritos , esses monumentos eram edificados para servir de moradia. Cai por terra, assim, a idéia de que nossos ancestrais faziam parte de tribos distribuídas a esmo pela f loresta. Entender como eram as sociedades antigas dá ao aluno a noção de identidade e cultura e faz com que ele reconheça que nossa história é bem anterior à ocupação européia, diz Ana Bergamin, professora e autora de livros didáticos, de São Paulo. Nesse mesmo sentido, estudos na área de Paleontologia revelam que há 10 mil anos habitavam áreas de todo o país animais de grande porte, como a preguiça-gigante. Com eles conviviam antepassados humanos, como Luzia. A mulher, cuja face com traços africanos foi reconstituída há dez anos, por meio do crânio, passou a ocupar as páginas dos livros de História, mostrando que não somos descendentes apenas de asiáticos. A humanidade evoluiu e sobreviveu a mudanças geológicas, criou seu espaço e gerou riquezas culturais e ecológicas, como a biodiversidade de hoje.

Assim como a pluralidade de plantas e a fértil terra preta da Amazônia não são obras divinas, o modo de vida dos ribeirinhos amazonenses não é uma invenção atual. Ambos são herança de uma ocupação humana milenar. Acreditase que diferentes partes da região, de Rondônia ao Pará, incluindo o baixo rio Negro, próximo a Manaus, já eram ocupadas 9 mil anos atrás. Esses povos sobreviviam da pesca, da coleta e da caça, provavelmente num contexto climático semelhante ao atual uma vez que um reaquecimento global fez aumentar as chuvas e o nível dos rios, causando cheias há 18 mil anos.
É possível que o processo de domesticação de inúmeras plantas hoje consumidas, como mandioca e pupunha, tenha sido iniciado pelos primeiros índios da região. Para chegar a essa conclusão sobre as formas antigas de cultivo, os estudiosos se baseiam também nas práticas atuais. As hortas presentes nos quintais das casas, por exemplo, já existiam ao redor das aldeias há cerca de mil anos. Para formá-las, os homens derrubavam somente matas secundárias, com árvores menores, já que dispunham apenas de machados de pedra, e não de metal, para abrir clareiras. Outra importante contribuição do homem pré-histórico é a terra preta, que não existia originalmente na Amazônia. Ela surgiu graças ao acúmulo contínuo de restos orgânicos há 4 mil anos.


Organização social
Os rastros de aldeias sedentárias, formadas por centenas de pessoas, datam de 3 mil anos atrás. O tamanho e a duração dos sítios arqueológicos ref letem mudanças nos padrões de ocupação do território, principalmente no que se refere à organização social. É preciso desmitificar a idéia de que a Amazônia era uma coisa só, diz o arqueólogo Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP). Entre os anos 400 e 1300, 40 mil habitantes ocuparam quase toda a ilha de Marajó, morando em casas de chão batido construídas sobre palafitas de terra, que costumavam ser maiores nas famílias mais abastadas. A constatação de que a figura da mulher era freqüentemente representada em divindades e peças como urnas funerárias leva os pesquisadores a crer que a sociedade tenha sido matrilinear, ou seja, de descendência materna. Isso não impede que homens tenham sido chefes, diz Denise Pahl Schaan, presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira.Enquanto o homem pescava, a mulher cuidava da aldeia, da roça e da produção de cerâmica (veja o infográfico abaixo). Estudos demonstram que as peças mais adornadas, como tangas destinadas a adolescentes, foram produzidas por pessoas com maior poder econômico. Elas foram encontradas somente em locais de cerimônias e moradias da elite, conta Denise, referência em pesquisa sobre Marajó. Nos séculos 16 e 17, europeus navegaram pelo rio Amazonas e descreveram aldeias com milhares de pessoas. Em várias delas, na Amazônia central, construíam-se montículos (espécie de palafita feita de terra preta e cacos de cerâmica).

As depressões de relevo ali encontradas são indícios de que eles serviam tanto para proteger casas contra alagamentos como para demonstrar poder, já que tinham tamanhos variados. Acredita-se que havia mão-de-obra específica, com divisão de tarefas, a serviço de alguém, diz o arqueólogo Eduardo Neves, que pesquisa a região. Embora os sepultamentos não sejam comuns nos montículos, restos funerários de um deles remetem à existência de uma elite. Havia chefes supremos, mas não reis nem Estados.

A terra preta hoje se mistura a centenas de cacos de cerâmica cujas variadas técnicas de produção revelam a presença simultânea de diferentes culturas. Isso pode comprovar também a ocorrência de conf litos entre aldeias, causados pela chegada de outros povos, diz Neves.

Esta informação se relaciona à anterior: áreas ocupadas no século 9 guardam sinais de valas artificiais com estacas, aparentemente usadas para defesa. Embora instabilidades políticas tenham gerado episódios de ocupação e o abandono de assentamentos, foram os europeus que exterminaram os índios em ataques e por meio da escravidão e da transmissão de doenças. Com isso, os sobreviventes foram para o interior. Em áreas próximas a rios densamente ocupadas na época hoje vivem caboclos que cultivam a terra dos sítios arqueológicos e pisam, diariamente, sobre as cerâmicas feitas pelos antepassados.


No alto Xingu, arqueólogos e antropólogos contam com a ajuda dos índios kuikurus para mapear o espaço ocupado por seus ancestrais. Aldeias circulares, cercadas por valas artificiais e conectadas por estradas, formam uma estrutura que remete a uma civilização de 1,1 mil anos atrás.
A aldeia atual, em forma de anel, foi um dia um conjunto de oito a 12 aldeias cerca de dez vezes maior, como mostra o infográfico acima. "Esse povo, formado por grupos independentes integrados em uma nação, como os do atual Xingu, tinhanoções sofisticadas de Matemática e Engenharia", explica o arqueólogo americano Michael Heckenberger.
Essa antiga sociedade xinguana se caracterizava pelo vasto conhecimento de cartografia e astronomia. Assim como os europeus desenvolveram tecnologias inovadoras utilizando o ferro e o bronze, os nativos americanos incorporaram a cosmologia, o estudo da origem e evolução do universo. Exatamente como no império inca de Cuzco, o maior das Américas, afirma o pesquisador. Os índios do Xingu, porém, constituíram uma paisagem lateral contrária aos monumentos verticais típicos das civilizações clássicas cercada de muito verde. "Eles não desmatavam grandes áreas contíguas porque acreditavam ter parentesco com a floresta", conta Heckenberger. "Até hoje os kuikurus se dizem descendentes de árvores." As áreas abertas, enfim, eram exclusivas para os assentamentos e o cultivo de roças de mandioca e árvores frutíferas.

Bem longe dali, entre 10 mil e mil anos atrás, os sambaquis (do tupi-guarani tampa, marisco, e ki, amontoado) eram erguidos por comunidades litorâneas também para demarcar território. Mas havia outras funções para essas pirâmides de areia e conchas. "Construídos em tempos diferentes por comunidades diversas, elas podiam servir de base para moradias ou cemitério", conta Flávio Calippo, arqueólogo subaquático do MAE-USP. No sambaqui Jabuticabeira 2, de Jaguaruna, a 157 quilômetros de Florianópolis, há 40 mil corpos.

"Pela localização e pela altura, os espaços também eram construídos para facilitar o controle do território e a obtenção de alimentos por meio da observação a distância", explica Judith Steinbach, do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, também em Santa Catarina. Já foram encontrados aproximadamente mil no país, incluindo os f luviais, constituídos por acúmulos de moluscos terrestres, como no Vale do Ribeira, em São Paulo. "Outros podem estar encobertos por restingas ou submersos por causa de variações climáticas", afirma Calippo.

Segundo o estudioso, oito sambaquis nessas condições estão sendo pesquisados na ilha do Cardoso, no litoral paulista. Espalhados sobre os monumentos, restos de animais marinhos indicam que os sambaquieiros dispunham de embarcações e variados artefatos de pesca. E ossos de tórax avantajados comprovam a existênciade ótimos nadadores nesse povo. Com aescassez de comida, erguiam-se novos sambaquis em outras áreas (ou ocupava-seum abandonado). Provavelmente a cultura dos tampakis foi suplantada pelospróprios tupis-guaranis, que introduzirama horticultura na região.

Há 11 mil anos, em áreas formadas por vastos cerrados e sob um clima frio e seco, os primeiros grupos de homens do país tiveram o privilégio (ou não) de conviver com animais de grande porte hoje extintos, como a preguiça-gigante. Surgido na América do Sul há 30 milhões de anos e pertencente à família dos tatus e dos tamanduás, o animal evoluiu em mais de 500 tipos e ocupou todo o continente americano. Em 1996, depois de 160 anos de estudos, pôde-se enfim montar um esqueleto completo da preguiça-gigante graças à ossada encontrada na Chapada Diamantina, na Bahia. No local havia também ossos de tigres-dentes-de-sabre e mastodontes.

O achado possibilitou conhecer a anatomia do maior exemplar de nossa megafauna, reconstituir seus músculos e, assim, obter informações sobre sua forma de locomoção. Diferentemente das preguiças atuais, comuns na Amazônia, as gigantes dificilmente subiam em árvores, já que tinham de 3 a 6 metros de comprimento e chegavam a pesar 5 toneladas.
O aquecimento geológico ocorrido há 10 mil anos foi fatal para o mamífero (e todos os gigantes) e fez com que apenas as preguiças arborícolas se salvassem, refugiando-se nas f lorestas tropicais. Por isso, está descartada a hipótese de que a megafauna tenha sido extinta por grupos humanos, que não dispunham de tecnologia para isso. Eles foram os únicos a testemunhar a realidade do que hoje se apresenta em ossos dispersos, diz o palentólogo Cástor Cartelle no filme O Brasil da Pré-história O Mistério do Poço Azul, já exibido na Europa. Isso não quer dizer, porém, que eles não caçassem animais grandes farta fonte de alimento.
Essas mudanças no cenário e nas formas de ocupação das terras do país evidenciam uma pré-história diferente do que apontam os europeus para quem as civilizações surgiram apenas depois da escrita. Resultado de anos de estudo, elas merecem ser levadas à sala de aula e compartilhadas com seus alunos.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Arqueologia da Amazônia, Eduardo Góes Neves, 88 págs., Ed. Jorge Zahar, tel. (21) 2108-0808;
Arte Rupestre na Amazônia, Edithe Pereira, 245 págs., Ed. Unesp, tel.(11) 3242-7171;
Brasil Rupestre, Marcos Jorge, André Prous e Loredana Ribeiro, 272 págs., Ed. Zencrane Filmes,tel. (41) 3023-3289;
O Povo de Luzia, Walter Alves Neves e Luís Beethoven Pilo, 336 págs., Ed. Globo, tel. (11) 6725-8867.

Galera entrem nos sites indicados!!!!

INTERNET
Conheça a cultura marajoara
No site Arqueologia Brasileira há informações sobre alguns dos principais sítios do país.



Pré-história do Nordeste do Brasil

Vestígios da Pré-História




Escrito por Vandeck Santiago

O Nordeste abriga em seu território alguns dos tesouros mais antigos do Brasil. Talvez até das Américas. Uma riqueza desconhecida por muitos, às vezes ameaçada de destruição por ignorância e falta de cuidado. Nem ouro nem prata, tampouco navios naufragados – algo de importância bem maior: vestígios de um passado muito remoto, que auxiliam a busca para se descobrir quem éramos, como éramos e de onde viemos.
Trata-se do acervo pré-histórico da região, diversificado, em grande quantidade, de importância mundial. Pinturas rupestres com milhares de anos, artefatos, vestígios dos primeiros nordestinos, dos primeiros brasileiros.
– Está no Nordeste a maior concentração de abrigos com arte rupestre do mundo – diz a doutora em Arqueologia Gabriela Martin, que nos últimos 30 anos vem pesquisando a Pré-História da região.
Estamos no apartamento dela, em Boa Viagem – eu, Mário Hélio e Anne-Marie Pessis, uma francesa doutora em Antropologia Visual e Doutora de Estado em Pré-História e há 20 anos também embrenhada no estudo da Pré-História nordestina. Antes de ir parar naquela conversa eu havia lido uma série de textos sobre o assunto e minha cabeça estava cheia de dúvidas, ignorâncias, preguiças gigantes, tigres de dente de sabre, esqueletos com mais de 10 mil anos, cenas iniciais do filme 2001, a vida dos ancestrais nordestinos, uma confusão dos diabos.
Foi por isso que me espantei quando ela falou "do mundo". Teria ouvido direito?
– Do mundo? – insisti. Queria certificar-me, poderia haver algum engano, talvez não tenha entendido direito. O assunto é muito específico, dá margem a esse tipo de equívoco, e eu não queria entrar naquele imenso cordão de gente que é capaz de tudo (até de forçar a verdade) para aumentar os méritos da região.
– É, do mundo – repete ela. – E não é por brasileirismo, americanismo que digo isso. É um fato científico.
Detalhe: Gabriela é espanhola. Casada com um brasileiro. Autora do livro Pré-História do Nordeste do Brasil (Editora Universitária/UFPE), uma síntese de 440 páginas, a primeira, de tudo que de importante existe sobre o assunto, até então restrito a publicações específicas.
Bem escrito, com estilo, embora ainda um manual voltado para arqueólogos e estudantes de Arqueologia – o que, ressalve-se, não torna a leitura impossível para quem acha que a Era Glacial é apenas alguma marca de sorvete. Nenhum outro mérito tivesse este livro, teria o de haver enumerado e reunido a Pré-História da região, com nome, endereço e data.
O livro está na terceira edição (a primeira saiu em 1996). A autora prepara agora um outro enfocando a Pré-História no Brasil, este dirigido ao grande público, sem o jargão arqueológico (Ver box na página 20).



Povoamento das Américas
Outro dado de repercussão mundial, em relação à Pré-História nordestina, é que a região é a base de uma teoria que defende ter a ocupação das Américas acontecido muito antes do que se supõe hoje, e por vias diferentes da que hoje é considerada como única.
O que se encontra estabelecido é que o povoamento das Américas começou há 12.000 anos, com levas de antepassados dos índios atuais. Eles teriam vindo de uma região entre a Mongólia e a Sibéria e atravessado o estreito de Bering (entre os extremos da Ásia e da América). A viagem teria acontecido por uma ponte de gelo formada na última era glacial.
Doze mil anos, estreito de Bering – é o que se encontra nas enciclopédias. Pois bem, na Serra da Capivara (PI), foram encontradas estruturas de fogueiras que remontam a quase 50.000 anos. O homem teria estado ali, portanto, muito antes. E para chegar necessariamente não precisaria ter viajado pelo estreito, poderia tê-lo feito por outras vias.
O continente americano é muito extenso, não é possível que seu povoamento tenha-se dado só por um caminho – a defensora mais ressonante dessa tese é a arqueóloga paulista Niède Guidon, de 67 anos, que desde 1970 está à frente das pesquisas na Serra da Capivara. É uma guerreira – vem desde então enfrentando o, com o perdão da palavra, establishment arqueológico norte-americano e parte do brasileiro, na defesa de suas teses. E criando uma obra que não é só acadêmica: em 1998 inaugurou o Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato (PI), região em que fica a Serra da Capivara – que é um Parque Nacional de 130 mil hectares, tornado patrimônio cultural da humanidade em 1991. Na área existem 420 sítios arqueológicos. Em suas diversas grutas encontram-se pinturas rupestres que podem até ser mais antigas do que as das cavernas mais famosas do mundo, a de Altamira (na Espanha) e de Lascaux (França). O local hoje é referência mundial para a Arqueologia, independentemente da polêmica sobre a datação dos seus achados.
A idéia de o povoamento americano ter acontecido antes da barreira dos 12.000 anos ainda enfrenta muita resistência. As objeções que se fazem contra os vestígios mais antigos encontrados no Piauí é que eles podem ser resultado de processos naturais. Para os defensores dessa corrente, falta o elo que comprove a presença do homem naquela área, antes daquele período. Falta, por exemplo, um esqueleto humano.
Nenhum resto humano até hoje encontrado no Brasil tem idade superior a 12.000 anos. No Nordeste o mais antigo tem perto de 10.000 anos – é o de uma mulher, encontrado em escavações na Serra da Capivara. O dado em si, porém, não contradiz as evidências da ocupação humana em datas muito anteriores aos achados ósseos, considera Gabriela.
Não é só para comprovar a presença do homem naquele local, em determinado momento histórico, que o esqueleto humano é importante. Por meio de amostras retiradas deles é possível chegar-se ao perfil cultural do grupo ao qual ele pertencia. Sua alimentação, longevidade, traços de sua vida cotidiana e até moléstias que sofreu.
Alguns problemas que existem para a descoberta de esqueletos, enumerados por Gabriela: "As terras ácidas existentes no solo brasileiro e as grandes áreas do trópico úmido pouco propício à conservação de ossos, os ritos de incineração dos cadáveres, a pouca densidade demográfica e a falta de pesquisa".
O povoamento das Américas é o tipo de polêmica que só o tempo, e novas descobertas, hão de resolver. Na área da Arqueologia a polêmica está sempre à espreita. No exato momento em que escrevo esta matéria, por exemplo, chegam notícias dando conta de contestações à tese hoje universalmente aceita de que o homem surgiu na África.
Um grupo de pesquisadores australianos considera que, pelo menos na Oceania, a história pode ter sido diferente. A análise de DNA de um fóssil australiano de cerca de 60 mil anos (batizado de Homem de Mungo, por ter sido descoberto num lago que leva este nome, em 1974) não encontrou nele "evidências de origem africana". Mas é uma discussão ainda embrionária, com muito tempo e debate pela frente. Voltemos ao Nordeste, que tem assunto de sobra para nos ocupar.



Outros Estados
O Piauí concentra, hoje, a parte mais volumosa da Pré-História nordestina, mas sinais e registros dessa época são estudados também em toda a região. Vestígios pré-históricos com datações em torno de 10.000 anos já foram encontrados na Bahia, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte.
No Rio Grande do Norte realiza-se um trabalho que segue os passos do que acontece no Piauí, com a criação da Fundação do Seridó, presidida por Gabriela. O cemitério mais antigo encontrado na região, até agora, também fica neste Estado, no município de Carnaúba dos Dantas, numa localidade conhecida como Pedra do Alexandre. Lá se encontrou um enterramento de crianças com tempo superior a 9.000 anos.
No município de Souza (PB) há o Vale dos Dinossauros, que se orgulha de ser "um dos sítios paleontológicos mais importantes do mundo". Os números que justificam isso: 505 trilhas de dinossauros, 51 espécies identificadas e 61 camadas sedimentares com pegadas do animal.
A Paraíba tem em seu território também a mais famosa gravura rupestre do Brasil, a da Pedra do Ingá, no município de Ingá, a 37 km de Campina Grande. É um grande painel, feito em um bloco de granito, que mede 24 metros de comprimento por 3 de altura. Fica à beira do riacho Ingá do Bacamarte. A presença humana nesse Estado já foi datada de 7.000 anos antes dos tempos presentes.
Os desenhos são enigmáticos e, certamente por isso, têm-se prestado às interpretações mais fantasiosas. "Nenhuma inscrição rupestre foi tema de tanto interesse para eruditos e pseudocientistas como a Itaquatiara de Ingá", escreve Gabriela (Itaquatiara, em Tupi, significa Pedra Pintada).
Apesar disso, porém, acrescenta a autora, até agora não houve "pesquisas completas feitas por arqueólogos profissionais que, isolando as fantasias de que fora objeto desde o século passado, procurassem inseri-la na Pré-História do Brasil como mais uma manifestação do mundo simbólico indígena". O homem pré-histórico nordestino é o ancestral direto dos índios de hoje.
Já houve quem a considerasse obra de fenícios e gregos. Existe ainda outra explicação que vê nas suas gravuras origens na escrita da Ilha da Páscoa, "e outras afirmativas não menos fantasiosas", lamenta Gabriela.
"A verdade é que os grafismos não oferecem nenhuma explicação fácil e lógica e é até possível que a sua finalidade fosse precisamente essa", escreve ela em seu livro.
Em Sergipe, no sítio arqueológico do Justino (município de Canindé), foi localizado um dos mais densos cemitérios indígenas do Brasil, com a localização de cerca de 200 esqueletos, entre completos e incompletos. É a maior necrópole indígena do Nordeste.
Em Pernambuco há registros da presença do homem pré-histórico em municípios próximos ao rio São Francisco, como Petrolina e Petrolândia, e em outros, como Afogados da Ingazeira, Arcoverde, Bom Jardim, Brejo da Madre de Deus, Buíque, Iati, Salgueiro, Santa Cruz do Capibaribe, Serra Talhada, Taquaritinga do Norte, Toritama, Venturosa e Vertentes.
Em Pernambuco destacam-se o abrigo do Letreiro do Sobrado (Petrolândia), onde existe um "painel de gravuras rupestres ocupando uma superfície de 12 metros de comprimento"; a Furna do Estrago, cemitério indígena localizado em Brejo da Madre de Deus, e o sítio Chã do Caboclo, em Bom Jardim.
É mais no Sertão e Agreste que se encontram vestígios das ocupações pré-históricas no Nordeste. No litoral os dados confiáveis que existem são em pequena quantidade: aparecem no Maranhão e Rio Grande do Norte. Muito provavelmente há sinais da presença do homem pré-histórico na área, mas que, com o tempo, devem ter sido submersos.
O que se tem descoberto até agora já é suficiente para mostrar a riqueza arqueológica do Nordeste – mas significa muito pouco diante do que ainda se tem para explorar. A região tem mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados. Um território imenso que deve estar guardando em suas entranhas as respostas, ou pelo menos fragmentos delas, para as perguntas com que esta matéria e tudo o mais começa: Quem éramos, como éramos, de onde viemos?




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