Lição de casa com a Web 2.0

O Portal de História está no caminho certo galera!!!

Lição de casa é coisa séria. Para torná-la mais atraente, saiba como usar blogs, fóruns e chats para transformar a rotina da turma

Anderson Moço (novaescola@atleitor.com.br),de Lavras, MG.
Foto: Pedro Motta











TODOS CONECTADOS Em casa, os alunos do Centro Educacional 
NDE UFLA estudam com o apoio de Karla (primeira foto).
Fotos: Pedro Motta

Uma velha aliada do processo de ensino e aprendizagem anda esquecida e até malfalada. Ela atende por várias alcunhas: lição, tema e tarefa de casa são as mais conhecidas. Em parte, esse comportamento está relacionado ao fato de que muitos professores não valorizam essa etapa do processo de construção do conhecimento e propõem atividades pouco intencionais. As crianças, por sua vez, não realizam o que foi pedido ou simplesmente copiam e colam informações da internet para se livrar do que foi pedido.

Esse cenário precisa mudar. "A lição de casa é o único momento em que a criança está longe da escola e se encontra com o que sabe e o que não sabe. É a hora de tomada de consciência das próprias dificuldades", diz Chris D'Albertas, psicóloga, professora do Colégio Vera Cruz, de São Paulo, e estudiosa do assunto. E mais: é uma maneira de desenvolver uma relação de responsabilidade com a própria aprendizagem e com os compromissos da vida, além de um estímulo à autonomia, já que não se trata de tarefas feitas simplesmente para entregar ao professor, mas de um instrumento poderoso de aprendizagem para o aluno. "Para nós, docentes, a lição possibilita rever o que foi planejado. Se, por exemplo, a turma teve dificuldade para realizar uma atividade, é sinal da necessidade de retomar o conteúdo trabalhado", completa Chris. Por isso, é fundamental rever como o material é recebido. "A escola faz a criança ver a tarefa como algo que ela precisa trazer certinho e que será corrigido pelo professor. E isso é um erro grande", ressalta a especialista. No momento da entrega, é preciso dar um retorno aos estudantes. Por que determinada questão não foi respondida? O que foi difícil resolver? Por quê? Por que houve muitas respostas distintas para a mesma questão? Em resumo, a boa lição de casa é aquela que desafia o aluno, fazendo com que ele coloque em jogo seus conhecimentos e perceba se há dificuldades.
 
Foto: Pedro Motta
CARA A CARA Antes de entrar no mundo virtual, a turma tem acesso ao conteúdo nas aulas presenciais

Para a professora Karla Emanuella Veloso Pinto, eleita Educadora do Ano no Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2009, tudo isso estava muito claro, tanto que ela revolucionou a lição de casa de uma maneira bastante original (e acessível): usou a internet para definir e acompanhar como as turmas do 8º e 9º anos faziam as tarefas de Geografia que ela propunha (leia mais no quadro à direita). "Karla conseguiu se aproximar da realidade dos jovens, que vivem conectados, e mudar o jeito como eles encaram as tarefas", ressalta Sueli Furlan, docente da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do Prêmio.

Como principal ferramenta de trabalho, Karla lançou mão de um ambiente virtual, uma espécie de rede de relacionamentos a serviço da Educação. Chats e fóruns foram usados não só para enviar as atividades para a garotada. Ela programava situações de debate online, tirava dúvidas via internet e ainda disponibilizava material de referência para a consulta bibliográfica. A ideia agradou a ponto de alguns estudantes passarem acessar as plataformas e publicar as pesquisas que realizavam e comentários a respeito das postagens dos colegas até mesmo durante os fins de semana e à noite.

Novos ambientes de aprendizagem

Foto: Pedro Motta
SEM FRONTEIRAS Karla inovou o conceito de lição de casa trabalhando online com toda a turma

Karla Emanuella Veloso Pinto tem 29 anos, a Educadora Nota 10 de 2009, e é natural de Lavras, a 240 quilômetros de Belo Horizonte, e mãe de uma menina de 9 anos. Formada em Filosofia, começou a lecionar Geografia assim que terminou a faculdade. No começo do ano passado, resolveu encarar uma proposta desafiadora: explorar o ambiente virtual de aprendizagem com as turmas de 8º e 9º ano do Centro Educacional NDE Ufla, escola que fica instalada no campus da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e tem apoio da instituição. Foi uma aluna da universidade quem desenvolveu e disponibilizou essa rede de relacionamentos a serviço da Educação. "Eu nunca tinha usado a internet para acompanhar a aprendizagem dos meus alunos e nem sabia como começar. Tive de aprender a usar os recursos e planejar cada passo", conta a professora.

- Objetivos

Quando ofereceram o ambiente virtual para Karla trabalhar, ela percebeu que a ferramenta permitiria estabelecer relações entre as aulas presenciais e as tecnologias que fazem parte do cotidiano dos alunos. Além disso, seria possível valorizar a lição de casa, acompanhar as dúvidas da turma e acabar com um problema que invadiu as escolas: os trabalhos copiados da internet.

- Passo a passo

Primeiro os alunos e a professora tiveram de aprender a usar o ambiente virtual desenvolvido pela Ufla. A navegação e as ferramentas são bem simples, nada muito diferente do que se encontra na internet - o grande diferencial é que se trata de um ambiente fechado, ao qual só a turma tem acesso. Nas aulas presenciais, eram trabalhados os conteúdos relacionados à ordem socioeconômica mundial e aos conflitos entre países. Ao acessar o ambiente virtual, os jovens tinham de postar pesquisas sobre o tema e opinar usando argumentos consistentes. Fóruns e chats possibilitavam à professora tirar as dúvidas que restavam em sala e verificar se todos estavam lendo os textos de referência e participando de modo satisfatório das discussões.

- Avaliação

Uma das vantagens de trabalhar com um ambiente virtual é que tudo fica registrado na rede: quem entregou o quê, a que horas, como foi a participação de cada aluno nas discussões etc. Isso permitiu que Karla acompanhasse as aprendizagens de perto revisse o planejamento sempre que percebia que alguma coisa não estava clara, além de analisar o posicionamento de todos (sem exceção), pois em sala há sempre estudantes que participam menos que outros.

Recursos gratuitos ajudam a turbinar as aulas

É fato que professores de todas as disciplinas podem se beneficiar do uso de uma série de elementos disponíveis na internet, como blogs, chats e fóruns de discussão. Além de muitos estarem disponíveis gratuitamente (basta se cadastrar para ter acesso e publicar o conteúdo desejado), a inclusão digital é uma realidade cada vez mais presente não só nas escolas como também na casa dos brasileiros.
 
Foto: Pedro Motta
DIRETO DA INTERNET Os saberes conquistados no ambiente virtual são expostos em sala, durante seminários

De acordo com estudo da Fundação Victor Civita (FVC), encomendado ao Ibope, 98% das escolas públicas das capitais brasileiras têm computadores e 83% acessam a internet por banda larga. No entanto, há que se destacar que para a disciplina de Geografia o ganho de trabalhar online é ainda maior: os conteúdos disponíveis na rede estão muito ligados a assuntos do dia a dia (como guerras, política ambiental e sustentabilidade) e são encontrados em inúmeros sites de notícias e outras páginas de informação (leia o projeto didático na página seguinte). Além disso, com o computador conectado, é possível ter contato com muitos tipos de mapas, vídeos e capítulos de livros que servem como referência bibliográfica.

"As ferramentas virtuais devem ser escolhidas de acordo com o perfil dos alunos e do trabalho que se quer desenvolver. Cada recurso aciona uma habilidade específica e é capaz de proporcionar uma experiência diferente", ressalta Levon Boligian, professor de Metodologia do Ensino de Geografia da Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp). O blog, por exemplo, é um ambiente virtual exclusivo e pode ser atualizado de maneira simples. É perfeito para publicar textos e estimular os comentários da garotada sobre eles, propor pesquisas para serem publicadas ali mesmo etc. Já os fóruns são úteis para concentrar a discussão a respeito de um assunto específico. O docente pode colocar algumas informações sobre um tema que esteja sendo trabalhado em sala e propor um debate embasado em argumentos construídos pela turma depois de todos te
rem analisado o material.

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