Empresa britânica inicia exploração de petróleo nas Malvinas
Uma empresa britânica inicia nesta segunda-feira a perfuração de um campo de prova para a extração de petróleo nas ilhas Malvinas (chamadas de Falklands pelos britânicos) em meio à escalada diplomática entre Argentina e Grã-Bretanha sobre o controle da região.
Segundo um porta-voz da empresa Desire Petroleum, que ganhou uma concessão para a exploração de petróleo na área, o início da perfuração estava previsto para as 3h locais (3h também em Brasília), em uma plataforma situada a cerca de 100 quilômetros da costa do arquipélago.
A Argentina diz que a autorização para a exploração de petróleo na região viola sua soberania e impôs restrições à navegação no entorno da ilha, localizada no Atlântico Sul.
A disputa sobre as Malvinas, sob controle britânico desde 1833, já foi objeto de uma guerra em 1982, quando os argentinos foram derrotados após tentarem uma invasão.
O Serviço Britânico de Medições Geológicas estima que pode haver até 60 bilhões de barris de petróleo sob as águas do arquipélago (três vezes o total das reservas americanas de petróleo).
Mas David Willie, porta-voz da Desire Petroleum, afirma que “provavelmente apenas uma fração disso poderá ser explorada comercialmente”.
'Medidas adequadas'
A Argentina ameaçou tomar “medidas adequadas” para impedir a exploração de petróleo no entorno das ilhas pela Grã-Bretanha, e está pedindo apoio de outros países latino-americanos na reunião de cúpula regional que acontece até terça-feira em Cancún, no México.
A Argentina quer que os países vizinhos também imponham restrições à navegação na região.
Apesar do aumento da tensão, a Argentina diz descartar uma ação militar e afirma que pretende pressionar a Grã-Bretanha diplomaticamente a entrar em negociações sobre a soberania das ilhas.
No ano passado, a Argentina submeteu às Nações Unidas um pedido para o reconhecimento de soberania sobre uma vasta extensão do Atlântico Sul, baseado em pesquisas sobre a extensão da plataforma continental do país.
O pedido aumentaria o território marítimo argentino em 1,7 milhão de quilômetros quadrados e incluía as ilhas controladas pela Grã-Bretanha.
As águas no entorno das Malvinas são consideradas pela Grã-Bretanha como território britânico além-mar.
A Argentina pretende levar à questão novamente às Nações Unidas nesta semana.
Águas britânicas
A Desire Petroleum diz que não quer se envolver nas disputas entre a Grã-Bretanha e a Argentina.
“A Desire é uma companhia de petróleo e está explorando petróleo e não está se envolvendo no que a Argentina está dizendo sobre recorrer à ONU. A plataforma está localizada firmemente dentro das águas britânicas”, afirma o porta-voz da companhia.
Segundo ele, a Argentina está começando seu próprio programa de exploração de petróleo nas águas a oeste das ilhas.
David Willie diz que a exploração nas Malvinas / Falklands está em um estágio inicial, e mesmo se quantidades comercialmente viáveis forem encontradas, levará ainda muitos anos para que elas comecem a ser extraídas.
Na semana passada, a Assembleia Legislativa das Falklands, que deu a concessão para a exploração do petróleo na região para a Desire, disse ter “todo o direito” de desenvolver “negócios legítimos” no setor energético.
O ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, David Miliband, disse que a exploração britânica de petróleo na região “está completamente de acordo com a lei internacional”.
O primeiro-ministro Gordon Brown também afirmou na semana passada que seu governo tomou “todas as medidas necessárias” para assegurar que as ilhas estejam protegidas.
ENTENDER
A Guerra das Malvinas
Guerra das Malvinas: interesses políticos que motivaram um penoso e desnecessário conflito.
As ilhas Malvinas, arquipélago situado a cerca de 500 quilômetros da costa argentina, foi palco de uma dais mais curtas, sangrentas e desnecessárias guerras que aconteceram no século XX. A região foi ocupada pelos britânicos desde o século XIX e integrava uma parcela mínima dos vastos territórios que compunham o imenso império britânico. Após a Segunda Guerra, mesmo com o processo de descolonização, a região sul americana se manteve sob a tutela inglesa.
Chegada a década de 1980, com quase um século de dominação britânica no arquipélago, a ditadura militar que controlava a Argentina decidiu promover um plano de controle sob o território. É importante ressaltar que nessa época, a ditadura argentina – então comandada pelo general Galtieri – se via pressionada pelos problemas sociais e econômicos que colocavam a população contra o governo. Dessa maneira, o plano seria uma forma desesperada de recuperar a imagem do governo por meio da guerra.
Um pouco antes do começo da guerra, o alto comando do governo argentino elaborou a Operação Rosário como forma de planejar as estratégias empregadas por suas forças militares. Paralelamente, no plano político internacional, os argentinos acreditavam que teriam o apoio dos Estados Unidos para reaver o território das Malvinas ou que os ingleses iriam abrir mão da ilha por meio de uma rápida negociação diplomática. No entanto, os planos do governo Galtieri não saíram como o esperado.
Em março de 1982, uma frota de navios mercantes escoltada por embarcações militares começou a rondar o arquipélago. Desconfiando daquela estranha manobra, as forças britânicas que zelavam pela proteção da ilha exigiram que aquelas embarcações se afastassem imediatamente do território inglês. Essa pequena indisposição acabou servindo de pretexto para que as forças argentinas declarassem guerra à Inglaterra realizando a invasão das Malvinas no dia 2 de abril daquele mesmo ano.
O conflito nas Malvinas, apesar de sua pequena extensão territorial, exigia que as forças militares envolvidas estivessem preparadas para enfrentar o clima hostil marcado por nevadas e chuvas constantes. A primeira invasão realizada pelos argentinos foi vitoriosa e resultou no controle de Port Stanley, que, com a conquista, mudaram o nome da cidade para Puerto Argentino. Enquanto o regime propagandeava sua vitória na mídia, os ingleses tentaram negociar uma retirada pacífica dos militares argentinos.
Mediante a negativa do governo Galtieri, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher ordenou a preparação das forças britânicas para um conflito contra os argentinos. A evidente superioridade bélica inglesa poderia antever o resultado deste conflito. Após uma fase de relativo equilíbrio entre as forças militares envolvidas na guerra, o lado britânico colocou em ação a chamada Operação Sutton, enviando um grande número de armas e fuzileiros para participar da guerra.
Aproveitando dos acidentes geográficos que tomavam todo o arquipélago, os argentinos organizaram um contra-ataque aéreo comandado pela Fuerza Aérea Sur. Utilizando de mísseis Exocet, os argentinos conseguiram abater duas embarcações britânicas. Apesar disso, as maiores derrotas argentinas aconteceram em terra, quando os britânicos não tiveram maiores dificuldades para vencer um exército numeroso, porém extremamente mal preparado.
Em pouco tempo, os ingleses organizaram um cerco à cidade de Port Stanley. A vitória dos ingleses aconteceu durante o mês de junho de 1982. A falta de armamentos potentes e o preparo tático dos ingleses impeliram as tropas argentinas a se entregarem sem oferecer maior resistência. No dia 14 de junho de 1982, a Inglaterra tinha finalmente restabelecido sua hegemonia sob as Ilhas Falkland, nome oficialmente dado pelos ingleses à região.
Após o conflito, a galopante crise inflacionária – que então batia na casa dos 600% ao ano – e os movimentos populares contra a repressão militar causaram a queda da ditadura argentina. Em um brusco processo de redemocratização, os argentinos depuseram Galtieri e, no ano seguinte, realizaram as eleições que levaram Raúl Alfonsín ao poder. Na Inglaterra, o conflito fortaleceu a imagem política de Margaret Thatcher, que conseguiu se reeleger como primeira-ministra.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
Chegada a década de 1980, com quase um século de dominação britânica no arquipélago, a ditadura militar que controlava a Argentina decidiu promover um plano de controle sob o território. É importante ressaltar que nessa época, a ditadura argentina – então comandada pelo general Galtieri – se via pressionada pelos problemas sociais e econômicos que colocavam a população contra o governo. Dessa maneira, o plano seria uma forma desesperada de recuperar a imagem do governo por meio da guerra.
Um pouco antes do começo da guerra, o alto comando do governo argentino elaborou a Operação Rosário como forma de planejar as estratégias empregadas por suas forças militares. Paralelamente, no plano político internacional, os argentinos acreditavam que teriam o apoio dos Estados Unidos para reaver o território das Malvinas ou que os ingleses iriam abrir mão da ilha por meio de uma rápida negociação diplomática. No entanto, os planos do governo Galtieri não saíram como o esperado.
Em março de 1982, uma frota de navios mercantes escoltada por embarcações militares começou a rondar o arquipélago. Desconfiando daquela estranha manobra, as forças britânicas que zelavam pela proteção da ilha exigiram que aquelas embarcações se afastassem imediatamente do território inglês. Essa pequena indisposição acabou servindo de pretexto para que as forças argentinas declarassem guerra à Inglaterra realizando a invasão das Malvinas no dia 2 de abril daquele mesmo ano.
O conflito nas Malvinas, apesar de sua pequena extensão territorial, exigia que as forças militares envolvidas estivessem preparadas para enfrentar o clima hostil marcado por nevadas e chuvas constantes. A primeira invasão realizada pelos argentinos foi vitoriosa e resultou no controle de Port Stanley, que, com a conquista, mudaram o nome da cidade para Puerto Argentino. Enquanto o regime propagandeava sua vitória na mídia, os ingleses tentaram negociar uma retirada pacífica dos militares argentinos.
Mediante a negativa do governo Galtieri, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher ordenou a preparação das forças britânicas para um conflito contra os argentinos. A evidente superioridade bélica inglesa poderia antever o resultado deste conflito. Após uma fase de relativo equilíbrio entre as forças militares envolvidas na guerra, o lado britânico colocou em ação a chamada Operação Sutton, enviando um grande número de armas e fuzileiros para participar da guerra.
Aproveitando dos acidentes geográficos que tomavam todo o arquipélago, os argentinos organizaram um contra-ataque aéreo comandado pela Fuerza Aérea Sur. Utilizando de mísseis Exocet, os argentinos conseguiram abater duas embarcações britânicas. Apesar disso, as maiores derrotas argentinas aconteceram em terra, quando os britânicos não tiveram maiores dificuldades para vencer um exército numeroso, porém extremamente mal preparado.
Em pouco tempo, os ingleses organizaram um cerco à cidade de Port Stanley. A vitória dos ingleses aconteceu durante o mês de junho de 1982. A falta de armamentos potentes e o preparo tático dos ingleses impeliram as tropas argentinas a se entregarem sem oferecer maior resistência. No dia 14 de junho de 1982, a Inglaterra tinha finalmente restabelecido sua hegemonia sob as Ilhas Falkland, nome oficialmente dado pelos ingleses à região.
Após o conflito, a galopante crise inflacionária – que então batia na casa dos 600% ao ano – e os movimentos populares contra a repressão militar causaram a queda da ditadura argentina. Em um brusco processo de redemocratização, os argentinos depuseram Galtieri e, no ano seguinte, realizaram as eleições que levaram Raúl Alfonsín ao poder. Na Inglaterra, o conflito fortaleceu a imagem política de Margaret Thatcher, que conseguiu se reeleger como primeira-ministra.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
Nenhum comentário:
Postar um comentário