Um país sob constante ameaça – de cada três habitantes do Equador, um é vizinho de vulcões. São 64 vulcões espalhados por um território 30 vezes menor que o do Brasil. Todos são monitorados pelo Instituto de Geofísica, em Quito, onde chegam dados de cem estações: é a maior rede de observação da América do Sul. Satélites, GPS e sismógrafos captam qualquer sinal de alerta.
"Está acontecendo alguma coisa no Tungurahua. Esta linha mostra que houve uma mudança no fluxo interno de lava”, diz um engenheiro. A agulha de outro vulcão, o Antisana, não para.
A atividade se concentra ao longo de uma estrada, e o Fantástico mostra por que o lugar ganhou o apelido de “Avenida dos Vulcões”. São 400 quilômetros. A estrada corta a região central do Equador, onde a Cordilheira dos Andes se divide em duas. Lá estão 8 dos 11 vulcões ativos do país.
Pegamos a Avenida dos Vulcões em Quito e vamos rumo ao sul. Não demora muito e, entre as nuvens, avistamos o Illinizas, um vulcão adormecido. Depois da curva, surge um cone perfeito: é o Cotopaxi. Ele costuma entrar em erupção a cada cem anos, e a última vez que isso aconteceu foi em 1877. Ou seja, já passou da hora de uma nova erupção. Mesmo sem expelir lava, o Cotopaxi provoca muita destruição.
O lugar era uma fábrica de telas, mas a única coisa que sobrou foi uma cúpula, porque ficava no terceiro andar do prédio. Os outros dois andares foram completamente encobertos pelas cinzas do Cotopaxi na última erupção. O vulcão está longe, mas isso significa que numa próxima erupção toda a cidade ao redor que se chama Latacunga está ameaçada. A comunidade de Salcedo, a 40 quilômetros da cratera, também poderia ser atingida por uma nova explosão do Cotopaxi.
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Uma senhora tem medo do Cotopaxi explodir e matar todos os seus filhos. Mas o vulcão que mais preocupa os equatorianos é o Tungurahua, palavra indígena que quer dizer "Montanha de fogo". Ele acordou de madrugada, em outubro de 1999. Cuspiu muita lava e rochas incandescentes. Desde então, o Tungurahua está nervoso. Entre 2000 e 2010, não houve um só ano em que o vulcão não tenha lançado lavas ou cinzas sobre a região.
Por isso, o vulcão ganhou um observatório especial. O pesquisador Andres Gorki não tira os olhos do Tungurahua. Esta semana, foram registrados mais de 50 tremores de terra e até uma explosão. “Agora, a situação parece ter se acalmado um pouco”, conta Gorki. Mesmo assim, escalar o vulcão está proibido por questão de segurança. O jeito é pegar um avião para chegar lá em cima.
Na decolagem, avistamos a parede do Tungurahua, mas, lá em cima, ele acabou escondido pelas nuvens. Do alto, deu para observar outros dois vulcões que ficam bem perto um do outro: o Sangai e o Altar, que tem na base um lago de águas azuis perto da Terra. É possível ver também o vulcão ativo mais alto do Equador, o Chimborazo está a 6.310 metros acima do nível do mar.
O movimento das placas terrestres ativa os vulcões. A energia acumulada nas profundezas procura uma saída e explode no alto das crateras em forma de vapor, gases, lava e fragmentos de rocha. Trata-se de um espetáculo belo e assustador.
Chegamos aos pés do vulcão Tungurahua. Na última erupção, em 2006, mais de 60 milhões de toneladas de rochas vulcânicas desceram lá de cima e foram destruindo tudo que havia pela frente, inclusive um povoado, onde havia casas, comércio e até uma praça de touros. Tudo foi soterrado, mas ninguém morreu.
O funcionário da Defesa Civil conta que os moradores escaparam a tempo porque aprenderam a ouvir o vulcão. Uma casa foi a única coisa que sobrou do vilarejo de 400 habitantes. Os proprietários consideram o vulcão um amigo, porque atrai turistas e deixa o solo fértil para o cultivo de tomates, batatas e feijão.
Fotos foram feitas esta semana com uma câmera especial, que revela a temperatura do vulcão. A cratera do Tungurahua está a 300ºC, mas em 2006, ela atingiu 1000ºC. A erupção foi tão violenta que pôde ser vista do espaço.
A cidade de Baños, a oeste do Tungurahua, ficou vazia. Moradores tiveram de sair de casa. “Não aconteceu nada grave, por causa da Virgem da Água Santa”, lembra uma senhora de 80 anos.
A população acredita que a Virgem tem um manto que protege a cidade. Por isso, a igreja está sempre lotada, mas, apesar da fé, ninguém se arrisca. No caso de uma erupção, todos sabem o que fazer, explica o vendedor de doces.
É só seguir a rota de fuga e ficar num abrigo ate o vulcão se acalmar. "Todos sabem para onde ir quando começa uma explosão. Você mora num lugar à beira do perigo", disse o turista brasileiro Valdo Felinto.
Todos os anos, cerca de 150 mil turistas visitam Baños.Eles vêm à procura das águas termais que descem das encostas do Tungurahua. Uma vendedora adora quando o vulcão entra em erupção. “Ele traz mais turistas e aumenta as nossas vendas”, conta.
Mas, para o Brasil, uma grande erupção do Tungurahua traria muitos prejuízos. Os ventos poderiam carregar cinzas até a Amazônia, que está bem perto, e paralisar nosso tráfego aéreo. É possível ver exatamente o que danifica a turbina dos aviões: a cinza vulcânica. O que acontece quando isso entra nas turbinas?
O pesquisador Gorki explica que a cinza vulcânica contém um elemento químico chamado silício. Quando entra na turbina de avião, esquenta muito e vira uma espécie de vidro que trava o motor. O chefe de sismologia do Instituto de Geofísica de Quito, Mario Ruiz, reforça o alerta: não é só o Tungurahua. Qualquer vulcão ativo dos Andes pode produzir cinzas muito perigosas e deixar toda a América do Sul no chão.
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