CARNAVAL | História do Maracatu

DOCUMENTÁRIO Macatu, Maracatus


Documentário, Ficção | De Marcelo Gomes | 1995 | 14 min
Com Jofre Soares, Meia-Noite, Aílton Guerra

Um documentário sobre o ritmo hipnótico do Maracatu Rural, que influenciou de Jorge Ben ao Mangue Bit. O primeiro curta de Marcelo Gomes, do aclamado Cinema, Aspirinas e Urubus! 

HISTÓRIA

Como não poderia ser diferente a história do Maracatu de Baque Virado se confunde/mistura com a história do nosso país. É portanto impossível contar e entender essa história sem refletir sobre os processos de invasão e colonização na África e na América do Sul.

  
1. Breve história da colonização européia na África, principalmente da colonização portuguesa.

1.1 Colônias

Grande parte do território Africano foi invadido e dominado pelos colonizadores europeus a partir do século 15, resultando no estabelecimento de colônias controladas por grandes potências da época como França, Portugal, Inglaterra e Espanha. As colônias portuguesas se estabeleceram principalmente nos territórios onde atualmente estão Angola e Moçambique, mas também em  Cabo Verde, São Tomé e Príncipe Guiné-Bissau.

No mapa abaixo as marcações em verde assinalam a provável presença portuguesa na África e na América do Sul a partir do século 15, além das colônias Francesas, Espanholas, Inglesas, entre outras.
Impérios coloniais do ocidente, de 1492 até o presente

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2. O tráfico negreiro

O processo de dominação e colonização européia na África teve início já no século 15, com a dominação em 1415 da cidade de Celta no norte africano. Nos séculos que se seguiram gradualmente o litoral do continente, tanto no Oceano Atlântico quanto no Oceano Índico, passou para o domínio europeu que também se estabeleceu no século 16 na América do Sul, principalmente pelas mãos dos portugueses e espanhóis. O tráfico de escravos ao Brasil se tornou uma prática crescente e já por volta de 1550 haviam escravos africanos na Vila de São Vicente. Nos anos seguintes a expansão do tráfico negreiro foi impulsionada por alguns fatores como a dificuldade de escravizar os nativos da América do Sul ou os negros da terra, o crescimento da produção de açúcar e, no século 18, a descoberta de ouro.
Sequestrados, aprisionados e trazidos para o Brasil nos chamados navios negreiros, os nativos do continente africano eram submetidos a torturas diversas com o objetivo de impedir revoltas e manter a mão-de-obra escrava.

Esquema de transporte de escravos nos navios negreiros

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E não deixe de ver Escravidão no Brasil – Uma pesquisa na coleção da biblioteca Nacional. Esta pesquisa organizou mais de 500 documentos digitalizados como manuscritos, iconografia, obras raras, livros em geral e periódicos históricos.
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3. Nações e Etnias trazidas ao Brasil

São imprecisos os registros a cerca das origens étnicas dos povos aprisionados na África e escravizados no Brasil, no entanto algumas designações surgiram por conta das línguas faladas entre os homens e mulheres aprisionados, ou como referência aos locais onde eram capturados ou ainda às cidades e portos onde eram embarcados. De um modo geral eram divididos pelos portugueses em dois grandes grupos os:  os Bantus e os Oeste-africanos:

3.1 Bantus

O termo Bantu significa, antes de mais nada, um grupo linguístico formado por muitos dialetos e línguas faladas principalmente na porção continental da África subssariana, como o Umbundu, o Quibundu, e o Quicongo. Esse jeito de falar, carregado e multiplicado por muitos grupos nômades, acabou adquirindo um uso que formou o que hoje muitos entendem como um grande tronco linguístico.

Os Bantus trazidos para o Brasil vieram das regiões que atualmente são os países de Angola, República do Congo, República Democrática do Congo, Moçambique e, em menor escala, Tanzânia. Pertenciam a grupos étnicos que os traficantes dividiam em Cassangas, Benguelas, Cabindas, Dembos, Rebolo, Anjico, Macuas, Quiloas, etc.
Constituíram a maior parte dos escravos levados para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e para a zona da mata do Nordeste.

3.2 Os Oeste-africanos

Foram chamados de Oeste-africanos diversas etnias que existiam em uma vasta região litorânea que ia desde o Senegal até a Nigéria, abrangendo também uma boa parte do interior ocidental do continente.

A faixa de terra fronteiriça ao sul da região do Sahel, que se estende no sentido oeste-leste atravessando toda a África, é denominada Sudão. Frequentemente, os escravos de origem oeste-africana são chamados de sudaneses, o que causa confusão com os habitantes do atual país Sudão, que comprovadamente não forneceu escravos para as Américas. Além disto, apenas parte dos escravos de origem oeste-africana vieram da vasta região chamada Sudão. Os nativos do oeste-africano foram os primeiros escravos a serem levados para as Américas sendo chamados, nesta época, de negros da Guiné.

Os Oeste-africanos eram principalmente nativos das regiões que atualmente são os países de Costa do Marfim, Benim, Togo, Gana e Nigéria. A região do golfo de BenimBahia[16] foi um dos principais pontos de embarque de escravos, tanto que era conhecida como Costa dos Escravos.

Os oeste-africanos pertenciam a diversos grupos étnicos, sendo alguns deles os:
Nagôs – os que falavam ou entendiam a língua dos Iorubás, o que incluía etnias como os Kètu, Egba, Egbado, Sabé, etc;
Jejes – que incluía etnias como Fons, Ashanti, Ewés, Fanti, Mina e outros menores como Krumans, Agni, Nzema, Timini, etc.

Os Malês eram escravos de origem oeste-africana, na maior parte falantes da língua haúça, que seguiam a religião muçulmana. Muitos deles falavam e escreviam em língua árabe, ou usavam caracteres do Árabe para escrever em Haúça[carece de fontes?]. Além dos Hauçás, isto é, dos falantes de língua haúça, outras etnias islamizadas trazidas como escravos para o Brasil foram os Mandingas, Fulas, Tapa, Bornu, Gurunsi, etc.

Havia também oeste-africanos de outras etnias além das acima citadas como os Mahis, Savalu e vários outros grupos menores.
1. Monjolo; 2. Mina; 3,4,8 e 9. Mocambique; 5 e 6. Benguela; 7. Calava

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4. O Brasil Colônia e a mão-de-obra escrava.

Força motriz da economia colonial do Brasil a mão-de-obra escrava se espalhou por todos os cantos da colônia resultando em uma grande presença de homens e mulheres negras no território brasileiro. Trabalhando principalmente na mineração, nas plantações de café e cana-de-açúcar e nos engenhos os escravos eram mantidos sob torturas e condições precárias em todos os aspectos, aprisionados nas senzalas de onde saíam apenas para trabalhar e apanhar.
Homem sendo castigado no tronco ou pelourinho

Homem sendo 'castigado' no tronco ou pelourinho
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5. O Surgimento dos “Maracatus-Nação”

Com a abolição da escravatura no Brasil no fim do século XVIII, o Maracatu passa gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com o Frevo, o Caboclinho, o Cavalo-marinho entre outras práticas populares tipicamente brasileiras, mas mantém em muitos “agrupamentos” uma forte ligação com a religiosidade do Candomblé ou Xangô Pernambucano.

No período carnavalesco em Pernambuco é comum nos depararmos com os batuques dos maracatus nação, que anunciam o cortejo real. Na verdade o que hoje nos parece tão comum ainda traz muitas interrogações sobre sua história.

Considera-se que surgiu onde hoje é o estado de Pernambuco, principalmente nas cidades de Recife, Olinda e Igarassu (que antigamente abrangia também o que são hoje os municípios de Itapissuma, Abreu e Lima e Itamaracá), durante o período escravocrata, provavelmente entre os séculos XVII e XVIII. Como a maioria das manifestações populares do país é uma mistura de culturas ameríndias, africanas e européias.

Apesar de existirem muitas visões, histórias e hipóteses diferentes, a explicação mais difundida entre os estudiosos a cerca da origem do Maracatu Nação é a de que ele teria surgido a partir das coroações e autos do Rei do Congo, prática implantada no Brasil supostamente pelos colonizadores portugueses e por conseqüência permitida e difundida pelos senhores de escravos.

Os eleitos como Rainhas e Reis do Congo eram lideranças políticas negras, intermediários entre o poder do Estado Colonial e as mulheres e homens de origem africana. Destas organizações teriam surgido muitas manifestações culturais populares que passaram a realizar encontros e rituais em torno dessas representações sociais, dando origem ao Maracatu de Baque Virado.


Com a abolição da escravatura no Brasil no fim do século XVIII, o Maracatu passa gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com o Frevo e outras práticas populares tipicamente brasileiras, tendo em diversos “agrupamentos” uma forte ligação com a religiosidade do Candomblé ou Xangô Pernambucano.

Após um intenso processo de decadência dos maracatus de Recife durante quase todo o século XX, ocorreu nos anos 1990 o que podemos chamar de “Boom do Maracatu”. A prática adquiriu uma notoriedade que nunca havia conquistado antes, provavelmente resultado, entre outras coisas, da ação do Movimento Negro Unificado (MNU) junto a Nação Leão Coroado, (uma das nações mais tradicionais de Recife), do movimento Mangue Beat (que tem como principais expoentes Chico Science e o grupo Nação Zumbi, a Banda Mestre Ambrósio, entre outros), e do grupo Nação Pernambuco (uma de suas principais marcas foi ter separado a dimensão da música e da dança do Maracatu de sua dimensão religiosa).

Nesse contexto o Maracatu de Baque Virado saiu de seu palco principal que é a cidade de Recife e chegou a diversos outros lugares do país e do mundo. Atualmente existem grupos percussivos que trabalham com elementos da Cultura do Maracatu Nação em quase todos os estados brasileiros e em diversos países como Canadá, Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Japão, Escócia, Alemanha, Espanha, entre outros.
Veja também:

Fontes Inspiradoras:

1 – “Reflexões Iniciais sobre parafolclóricos de maracatu-nação ou de baque-virado”
Kelma F. Beltrão de Souza -  UNIrevista – Vol. 1, n° 3 (julho 2006)
Mestra em Comunicação Rural, professora
Faculdade Metropolitana/IPESU, PE

2 – “Maracatu de Baque Virado em São Paulo”
Orientador: Prof. Dr. John Cowart Dawsey
Aluno: Pedro de Cillo Rodrigues
Relatório de pesquisa (Iniciação Científica)
FFLCH – USP – Dep. de Antropologia
Agosto 2007



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